O Grupo de Apoio Psicológico ao Emagrecimento e Hábitos Saudáveis foi criado pelas psicólogas Carla da Silva, Lis Guimarães e Tanise Pazzim como uma alternativa para quem busca reavaliar e mudar o seus hábitos visando perder peso.
A proposta do grupo se sustenta no entendimento que o processo de emagrecimento envolve uma mudança no estilo de vida, gerando diversas repercussões emocionais quem tem acolhida e apoio no relacionamento grupal. As psicólogas propõem uma terapia em grupo, centrada nos aspectos psicológicos referentes à alimentação.
As psicólogas Carla da Silva (psicóloga residente de Psicologia Hospitalar no Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre) e Tanise Pazzim (Coordenadora da Escola de Gestão Pública da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, com formação em psicologia organizacional no Institutito de Desenvolvimento Global, em Coordenação e Dinâmica de Grupo pela Sociedade Brasileira de Grupos e especialização em Gestão Pública), responsáveis pelo GAPEHS, conversaram com o psicólogo Alexandre Schossler, diretor do Portal Psico, veja a entrevista abaixo.
Portal Psico - Para começar, gostaria que vocês falassem um pouco da proposta de trabalho de vocês, como surgiu, a que se propõe?
Tanise Pazzim – Nós trabalhamos juntas, eu, a Carla e a Lis, em um órgão público da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, em coordenação de grupos de família, grupo de alcoolismo e de reeducação alimentar. A partir desta nossa vivência, pensamos em expandir a parceria para além do Serviço Público. Fizemos um projeto desta proposta do GAPEHS no sentido de pensar o que queríamos, como gostaríamos de trabalhar, onde, com qual referencial teórico, com qual supervisor, etc. Elaboramos material de divulgação e estamos divulgando, através da nossa rede de contatos, com colegas, amigos, família, etc.
Portal Psico - E porque a escolha do grupo para trabalhar?
Tanise - Eu sou apaixonada por grupos. Eu gosto muito do trabalho com grupos. Tenho formação na SBDG e acho que é o futuro das organizações saber trabalhar com diferentes tipos de grupo. Nós nascemos em um grupo primário, que é a família, e ao longo da vida, passamos por sucessivos grupos. Esse grupo em especial, o GAPEHS, é um grupo difícil, pois as pessoas querem perder peso, mas muitas vezes, de uma forma mágica. Elas têm muita dificuldade, muito medo de se aceitar.
Carla da Silva - Além disso tem a questão da efetividade, que temos visto em estudos e pesquisas que as pessoas buscam a terapia em grupo como forma de perder peso. Tem uma pesquisa que diz que as pessoas que se trataram no grupo emagreceram mais do que outras que fizeram atendimento individual. O nosso entendimento é de que o grupo é uma alternativa entre tantas outras, para o emagrecimento e qualidade de vida, mas é uma alternativa eficaz. Muitas vezes, as pessoas tem preconceito em relação ao trabalho de grupo, mas é algo bastante eficaz.
Tanise - A gente entende a questão do tratamento da obesidade como um tripé, onde um fator são os exercícios fisicos, outro a alimentação saudável e um terceiro fator é a questão psicológica. São os três fatores juntos que levam ao sucesso na questão do emagrecimento e manutenção do peso. Em geral, as pessoas somente consultam com uma nutricionista ou um médico e não fazem exercício físico ou não se preocupam com a questão psicológica. Ou então só praticam exercícios físicos e comem, comem, comem. Então tem que ter as três coisas juntas. E a nossa proposta do grupo é o enfoque no fator psicológico. O grupo é coordenado por duas psicólogas. Não temos nutricionistas na coordenação do grupo. Entretanto, há sempre um incentivo por parte da coordenação do grupo para que os participantes busquem o tratamento nutricional e a prática de exercícios físicos.
Sim, então vocês já realizavam esses grupos nesse outro local que vocês trabalhavam?
Carla - Sim, nós já saímos de lá há alguns meses, fazíamos grupos neste órgão público com o objetivo de reeducação alimentar. Era um pouco diferente dessa proposta de agora, pois contava também com uma nutricionista e tinha esse objetivo de informação e educação. Trabalhavam-se questões nutricionais, com aspectos de informação e também o lado psicológico. Já o GAPEHS, que é a nossa proposta, tem como foco a questão dos aspectos psicológicos. Trabalhamos em grupo a parte psicológica do tripé. Mas a pessoa pode realizar o seu tratamento individual, que pode incluir o seu psicólogo, o médico, o nutricionista.
Tanise - Sim, nós vamos encaminhar, sugerir, mas não é obrigatório fazer o grupo e estar consultando uma nutricionista ou realizando um tratamento individual.
Então o grupo se propõe a ser uma terapia em grupo ou vocês também vão atender aquele paciente que já faz terapia individual?
Tanise - O grupo é uma psicoterapia.
A pessoa, então, não pode estar fazendo terapia individual?
Tanise - Sim, pode também fazer terapia individual, mas a proposta do grupo é de psicoterapia, de uma terapia em grupo. Mas se a pessoa quiser fazer a sua terapia individual, melhor ainda.
Pergunto isso para diferenciar de outros grupos, como os de auto-ajuda no modelo dos anônimos, não é a proposta, certo?
Carla - Não, pois o GAPEHS tem a questão da coordenação técnica; os grupos são coordenados por psicólogas. Claro, em uma psicoterapia de grupo também tem aspectos de auto-ajuda, as pessoas vão estar ali dividindo experiências.
Tanise - A diferença que eu vejo da psicoterapia para o grupo de auto-ajuda, é que a literatura dos grupos de auto-ajuda refere que o grupo é coordenado por uma pessoa que passou por aquela dificuldade, como no AA (Alcoolicos Anônimos), por exemplo. E no nosso caso são técnicos. Mas na psicoterapia acaba ocorrendo uma auto-ajuda, na medida em que as pessoas dizem “ah, eu também já passei por isso”, então acaba acontecendo uma auto-ajuda.
Talvez não auto-ajuda, mas algo como ajuda mútua, para diferenciar da literatura de auto-ajuda, que acho que não é o que vocês estão propondo.
Tanise - Sim.
Carla - Sim, e também para diferenciar dos grupos de anônimos, pois estamos ali como profissionais técnicas. Acho importante diferenciar, pois temos uma proposta diferente.
E vocês têm alguma linha preferencial de trabalho?
Tanise - Sim, isso era o que eu ia dizer agora; a gente trabalha num entendimento mais dinâmico, mas psicanalítico.
Alguns autores nos quais vocês se baseiam mais?
Carla - Na questão do grupo nós utilizamos Zimermam, Pichon-Rivère, mais pelo referencial da psicanálise. Trabalhamos também com a questão do grupo operativo.
Com isso vocês querem dizer que trabalham as questões inconscientes do grupo, algo implícito.
Carla - Sim.
Pergunto para diferenciar daqueles grupos de mais voltados para orientação, que também existem muitos. Pelo que entendo da proposta de vocês, o objetivo não é só trabalhar aspectos mais visíveis, mas também as questões inconscientes.
Tanise - É, mas tem as duas coisas. Também tem o aspecto da educação, da informação.
Carla - É, se fosse para destacar uma área, diria que a questão psicanalítica está mais a frente, mas também não deixa de ter essa questão da informação, da psicoeducação.
Tanise - Não é uma abordagem cognitivo-comportamental, mas tem o aspecto psicoeducativo também.
Bem, já que entramos nesse aspecto mais teórico, gostaria de saber como vocês vêem a questão do sobrepeso, da obesidade na sociedade hoje. Fala-se em algo como epidemia, porque vocês acham que hoje tem tantas pessoas com essa questão?
Carla - Acho que é o imediatismo, da satisfação, como as pessoas buscam o prazer e as soluções imediatas. Nós vemos a questão das dietas e das soluções milagrosas e pensamos o que está por trás disso.
Tanise - Semana passada mesmo almoçava com uma colega que é obesa e ela falava que só ia almoçar uma vez na semana, por causa das finanças. Mas ela ganha bem, ao mesmo tempo ela falava de uma bolsa e outros produtos que pretendia comprar. Ela se alimenta muito mal, e aí começamos a pensar quais são as prioridades das pessoas. Querem perder peso, mas de forma mágica, apelando para várias cirurgias, muitas vezes até indo contra indicações médicas. É preciso que as pessoas se conscientizem para uma reeducação alimentar. É uma mudança de estilo para o resto da vida, mas as pessoas não se conscientizam disso. Perder peso é fácil, o difícil é se manter no peso desejado.
A que vocês atribuem essa dificuldade?
Tanise - Talvez a pensamento mágico, que passa pela questão da insegurança.
E essas questões do imediatismo, da ansiedade, são trabalhadas no grupo?
Carla - Sim, é feito um reconhecimento disso.
Como vocês trabalham no grupo essas questões? Pois a problemática pode ser compartilhada, mas a vinculação dessas pessoas com a questão da comida, da alimentação, pode ter origens diversas.
Tanise - Aí depende
Sim, claro, uma pergunta genérica é difícil de ser respondida... Mas como vocês lidam quando percebem uma questão mais individual? Há espaço no grupo ou é feito um encaminhamento individual?
Carla - Bem, se percebemos que pode ser trabalhado no grupo, o fazemos, mas não impede que também seja feito um encaminhamento individual. Vamos receber pacientes de colegas, como também vamos encaminhar pessoas caso entendamos que a questão deve ser tratada em outro espaço, como num atendimento individual. Assim como psicólogos, como para outros profissionais.
Tanise - Também devemos ver se aquilo que pessoa traz não é do grupo, se aquilo é somente individual ou se o grupo também se reconhece nessa questão.
E como vocês vêem a questão da pessoa que já está tendo um acompanhamento individual e queira participar do grupo? Vocês vão manter contato com esse profissional que já faz o atendimento?
Tanise - A princípio não, somente em alguma questão mais pontual.
O trabalho de vocês é bem focado na questão do emagrecimento então?
Carla - Sim, se surgirem questões que fujam ao foco do grupo, aí vamos julgar se há a demanda para um atendimento individual. Pois não é uma psicoterapia, é uma psicoterapia focada na reeducação alimentar, aquilo que fugir a esse foco deve ser avaliado se deve ser trabalhado em uma terapia individual. A gente tem uma lista de colegas, que está sempre aumentando, que é para quem encaminhamos.
Mudando um pouco o assunto, vocês falaram que estão mudando um pouco o público, pois ofereciam antes para pessoas que estavam vinculadas a uma empresa. Agora, desvinculado de uma instituição, vocês percebem diferenças? Já é possível fazer uma avaliação nesse sentido?
Carla - Sim, vinculado a empresa já tínhamos o público. Bem, tem várias questões, na empresa era oferecido gratuitamente, no horário de trabalho. No âmbito privado, é diferente, pois envolve a questão do pagamento. Há também o aspecto das pessoas tomarem conhecimento desta atividade. Tem muita curiosidade, mas as pessoas sempre preferem esperar um pouco para ver o que vai acontecer.
Não especificamente no foco do trabalho de vocês, mas queria saber sobre a própria questão do grupo. Nesse contexto imediatista que vocês ressaltam, a própria questão do grupo não dificulta um pouco isso?
Carla - Acho que essa questão do individualismo, do imediatismo é realmente um complicador para as pessoas buscarem o grupo. E também o fato de acreditar na proposta, pois a nossa experiência mostra que funciona. Questionamos isso, ainda mais nesse momento inicial, de começar a divulgação. Ainda temos algumas dúvidas que vão sendo clareadas ao longo do trabalho. Sabemos que dá certo, mas ainda tentamos compreender o que falta para que as pessoas possam se ligar mais a essa proposta.
Mais especificamente, vocês pensam que problemática do público-alvo dos grupos também é um fator que dificulta a busca pelo atendimento? Mais do que a questão financeira ou de divulgação?
Carla - Sim, acho que sim, principalmente no que diz respeito à frustração, à iniciativa pela mudança. Claro que há a questão financeira e de divulgação, mas essa iniciativa de buscar a mudança é importante e é algo que está ligada a problemática das pessoas com sobrepeso.
Em relação ao processo de entrada no grupo, como isso é feito?
Carla - Fazemos uma entrevista inicial para tratar do perfil do grupo. Para conhecer a pessoa e ver se há indicação para o trabalho em grupo. A entrevista é feita com as coordenadoras do grupo, que podem ser acessadas pelos nossos contatos. Imaginamos um limite de 10 pessoas por grupo, pois pensamos que é um número bom para o trabalho ser realizado, mas o grupo inicia com um mínimo de 3 pessoas. Quando a pessoa entra em contato agendamos a entrevista inicial e depois entramos em contato quando do início do grupo. É um grupo aberto, que as pessoas podem entrar, mas sempre com uma entrevista inicial.
Tanise - A entrevista é para conhecer a pessoa e ver o que levou ela a buscar o atendimento.
O contato com as psicólogas do GAPEHS pode ser feita através do email gapehs@gmail.com.
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