Suicídio é problema de saúde pública, diz especialista
Vídeo postado por menina no Canadá mostra como o bullying pode exercer influência nos jovens
O vídeo de uma adolescente de 15 anos que tirou a própria vida no Canadá após ter recebido ofensas através da internet chamou a atenção de todo o mundo. A jovem havia mostrado os seios para um homem, numa sala de bate-papo, e as imagens foram divulgadas para colegas, que passaram a praticar o chamado cyberbullying. O vídeo, no qual ela relata, por meio de cartazes, toda a sua história, mostra como o bullying pode influenciar os jovens a cometer atitudes extremas, como dar fim à própria vida.
No Rio Grande do Sul, o tema também preocupa. O Estado está em segundo lugar na lista de maior índice de suicídio no Brasil, atrás apenas de Roraima, segundo dados do Ministério da Saúde, e os jovens respondem por boa parte dessa estatística, pelo menos nas grandes cidades. A cada ano, 25 mil tentativas são registradas em território gaúcho, com mais de mil efetivadas.
Entre os motivos que levam uma pessoa a cometer suicídio, estão principalmente dependência química e transtornos de humor, como depressão. O gestor do Centro de Promoção da Vida e Prevenção ao Suicídio e da Saúde Mental do Hospital Universitário Mãe de Deus, psiquiatra Ricardo Nogueira, afirma que o suicídio é um “problema de saúde pública” e que em Porto Alegre e em cidades onde há universidades, como Caxias do Sul, Passo Fundo, e Santa Maria, a incidência é maior entre pessoas de 15 a 29 anos. A maior parte dos suicídios (80%) ocorre em casa, 16% em hospitais e 4% na rua.
Entre as 20 cidades brasileiras com maior incidência, metade se encontra no Estado. Em Porto Alegre, ocorreram pelo menos 80 casos em 2011. Já em outras localidades do Interior, há grande registro de suicídio por idosos. Nogueira atribui isso à depressão causada por doenças, muitas delas terminais, como câncer. Além disso, ele relata que na região serrana houve aumento de casos de atentados contra a própria vida por pessoas de classe média alta, com problemas ligados ao consumo de álcool.
De acordo com o psiquiatra, o suicídio é uma doença genética, como depressão e alcoolismo, e por isso é necessário tratar não apenas o possível suicida, mas também o grupo em que se insere. “Se ocorre um suicídio, um ano depois pode ocorrer outro no mesmo grupo, pois as pessoas se sentem abaladas”, diz. Dessa forma, é importante realizar acompanhamento de familiares e amigos de pessoas que se mataram, a fim de evitar que outros realizem o mesmo tipo de ação posteriormente.
Confira o vídeo da adolescente canadense:
Prevenção tenta diminuir estatística
Para tentar diminuir essa estatística, órgãos ligados à saúde promovem ações preventivas. Uma dessas iniciativas é o Programa de Promoção da Vida e Prevenção do Suicídio do Sistema de Saúde Mãe de Deus, desenvolvido em conjunto com o Centro Estadual de Vigilância em Saúde do Rio Grande do Sul (CEVS-RS). Desde 2008, esse trabalho ajudou a reduzir em 12% o índice de suicídios no Estado.
O programa consiste na capacitação de profissionais da área da saúde, em especial psiquiatras, para que identifiquem sinais que indiquem possíveis suicidas e trabalhem com ações pontuais para evitar a tentativa. Nogueira conta que ocorrem, em média, cinco tentativas até que se concretize o suicídio, por isso é importante tratar os pacientes com essa tendência para prevenir a concretização do ato.
A parceria resultou na criação do Manual de Prevenção ao Suicídio, lançado em maio deste ano. Baseado em pesquisas realizadas nas cidades de Candelária, Santa Cruz do Sul, São Lourenço do Sul e Venâncio Aires, o material é distribuído às prefeituras gaúchas. Além dos serviços de saúde, policiais e bombeiros também recebem o livro, pois contribuem para alertar sobre ocorrências do tipo. Nogueira explica que bombeiros são treinados para saber como agir em casos de pessoas que querem se jogar de prédios e pontes, por exemplo, e têm sucesso na negociação com os suicidas.
Práticas antibullying
O Rio Grande do Sul vem adotando práticas para orientar e prevenir o bullying, comum principalmente entre crianças e adolescentes. Em junho de 2010, entrou em vigor a lei estadual 13.474, que prevê que instituições de ensino públicas e privadas desenvolvam ações de combate ao bullying e registrem as ocorrências.
A fim de evitar o bullying nas escolas, Nogueira destaca a importância de realizar seminários e debates sobre o tema, prestar orientações aos pais, alunos e professores por meio de cartilhas, e utilizar experiências positivas de outras instituições, até mesmo de outros países, e estudos científicos da área. O Colégio Concórdia, na zona Norte de Porto Alegre, que recebe alunos do ensino infantil ao médio, instituiu um programa antibullying. Ao longo do ano, o tema é abordado através de textos, vídeos e debates, a fim de promover a reflexão sobre a prática. Além disso, a instituição dispõe de uma urna para comunicação de casos constatados de bullying nas dependências da escola. Denúncias também podem ser feitas através do site.
Final de ano é período delicado
O psiquiatra explica que no final de ano aumenta o número de tentativas de suicídio. Ele credita isso à depressão causada pelo clima de Natal e Ano Novo, que sugere alegria e esperança, levando pessoas com transtornos a se sentirem mais sós. Para evitar atitude de risco, os serviços de saúde orientam que as pessoas que se encontrarem nessa situação procurem emergências psiquiátricas para passar essas datas.
A mídia desempenha um importante papel como difusora de informações que ajudam a orientar as pessoas que apresentam fatores de risco a procurarem ajuda, segundo o médico. “É preciso chamar a atenção para o fato de ser um problema de saúde pública”, reafirma o médico. Assim, equipes multidisciplinares com psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais e terapeutas ocupacionais são colocados à disposição para auxiliar as pessoas com tendências suicidas a receberem o tratamento adequado e encontrarem o bem-estar.
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