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A realidade de um doente renal
 
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18/03/2019

A realidade de um doente renal

Artigo do membro da equipe de transplantes no Brasil, Fernando Vinhal

Pedro tem 45 anos, filho único, casado, pai de três filhos. Seu pai morreu com a mesma idade por causa desconhecida. É um executivo de sucesso que acaba de fechar um novo negócio magnífico, que exigiria total empenho pessoal. Após saída com colegas para uma comemoração, amanheceu com náuseas, vômitos e indisposição. Procurou um médico que, após alguns exames, diagnosticou insuficiência renal terminal, causada por doença policística. A partir de agora dependeria de terapia renal substitutiva, que consumiria em torno de 20 horas semanais para o tratamento de hemodiálise. Pedro se desesperou e, para piorar, descobriu que a doença é hereditária. Seria sua culpa transmitir uma doença dessas aos seus filhos? – pensava ele. Ao perguntar como poderia mudar isso tudo ouviu: “Somente com um novo órgão, uma família doadora e um transplante renal podem devolver a vida que você tinha antes”.

Em seu primeiro dia em hemodiálise, conheceu vários pacientes. Um mundo doente que não pensava existir. O que mais chamou sua atenção foi uma garota - Maria, de 2 anos - que devido a uma má formação do trato urinário evoluiu com insuficiência renal crônica e necessidade de tratamento dialítico. “Tão jovem! A doença não escolhe idade” - pensou ele. “Mas ela pode realizar um transplante, resolveria o problema?” perguntou Pedro. Mais uma vez ouviu a mesma resposta: “Depende de uma família doadora”.

Desafios

Em seu segundo dia de tratamento, observou uma correria da equipe médica, entusiasmada com a possibilidade de um doador em potencial: um jovem de 23 anos, vítima de acidente automobilístico, quando retornava para casa após sua formatura em medicina. Apresentara morte encefálica.

A Central de Transplante informou os médicos que a família estava inconsolável pela tragédia e que era uma deselegância os abordarem naquele momento tão delicado. Além disso o jovem médico nunca tinha comentado nada sobre doação. Ele perdeu a vida e pessoas perdiam a oportunidade de serem curados. “Por que as pessoas são tão egoístas?” - questionava um membro da equipe. Ouviu como resposta: “As pessoas não conhecem uma a outra na intimidade ou em todos os seus desejos, não paramos para pensar em nosso momento final”.

Outro grande problema dessa doença é que ela exige tratamentos especializados e de alto custo. Apenas 7% dos municípios brasileiros possuem centros de tratamentos. Pacientes fora desse circuito morrem sem diagnósticos ou sem tratamentos ou viajam dezenas de quilômetros para conseguir sobreviver.

Insuficiência funcional de um órgão é mais comum que imaginamos

Insuficiência funcional de um órgão pode variar de intensidade e é chamada de terminal quando a função desempenhada por esse órgão é incapaz de atender a necessidade do organismo. Nesse momento é preciso iniciar uma terapia substitutiva como a hemodiálise ou transplante, no caso de uma insuficiência renal, por exemplo.

Casos como do Pedro e da Maria são mais comuns do que imaginamos. A prevalência de doença renal (número de casos em uma determinada população) gira em torno de 6% somente no Brasil - quase 10 milhões de pessoas, número que aumenta cerca de 10% a cada ano. São mais de 1,5 milhão de pessoas realizando tratamento dialítico no mundo, sendo em torno de 113 mil no Brasil, o que não representa 0,5% da população. Infelizmente o restante morre antes de ter o diagnóstico ou porque não conseguem acesso ao tratamento, por falta de vagas ou por habitar em um local distante de um centro de tratamento.

Somente com esses pacientes, o Ministério da Saúde gasta em torno de 4 bilhões de reais em tratamento dialítico por ano no Brasil. Apesar dos custos elevados, a hemodiálise sozinha não é suficiente e necessita de terapia medicamentosa de apoio, o que pode aumentar em até 50% esse custo.

Transplantes e seus problemas

O transplante é a forma de tratamento mais eficaz, próxima ao natural e de menor custo para substituir a função de um órgão ou tecido que está incapacitado de desempenhar sua função adequada. Um fator significativamente negativo é a falta de doadores disponíveis devido a não doação familiar.

São dois tipos de doadores: vivos ou falecidos. O primeiro apresenta maior dificuldade relacionada à vida do doador (trabalho, provedor familiar), além do risco que, apesar de baixo, existe. O doador falecido é a fonte doadora ideal em um tratamento com órgãos sólido.

A lista de espera de receptores de rim representa mais de 15 vezes o número de órgãos ofertados anualmente. No Brasil, mais de 70% dos transplantes, a partir de doador falecido, ocorreram nas regiões Sul e Sudeste do País. Em 2018, o número de vítimas de mortes anuais violentas e de trânsito ultrapassou os 100 mil. No mesmo período, somente três mil doadores falecidos foram ofertados por suas famílias.

Atualmente, após o diagnóstico de morte encefálica, a equipe médica informa compulsoriamente a Central de Transplantes, que explica à família o processo de doação e consulta se a mesma é doadora de órgãos. Não há nenhuma retribuição financeira ou qualquer outro privilégio. Na doação, serão realizados procedimentos de retirada dos diversos órgãos e doados para qualquer lugar do Brasil, gratuitamente. Após a retirada dos órgãos e tecidos doados, o corpo do doador é devolvido à família para continuidade dos procedimentos funerários.

Muito pode ser feito

A negativa das famílias muitas vezes é fruto de uma incerteza sobre o desejo do possível doador, sobre o que é doação, o que é transplante e o entendimento de que todos podem, a qualquer momento, ser necessitados e/ou beneficiários de um órgão doado. Mais de 60% das famílias de possíveis doadores, após serem abordadas, negam a doação devido às incertezas ou por nunca terem conversado sobre o assunto ao longo de sua convivência.

As possibilidades dos “Pedros” e das “Marias” retornarem às suas vidas depende apenas de um “sim” de uma família em algum lugar. Tudo pode voltar a ser quase normal apenas com uma decisão de amor ao próximo. 


Autor: Redação
Fonte: Central Press

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