
Em maio de 2024, o Rio Grande do Sul enfrentou uma das maiores tragédias climáticas da sua história. As enchentes que atingiram o estado deixaram mais de 2,3 milhões de pessoas impactadas, 183 mortes confirmadas e mais de 650 mil pessoas fora de suas casas — entre desalojados e desabrigados. Um ano depois, os efeitos ainda são sentidos, especialmente na saúde emocional das comunidades atingidas.
Com foco na recuperação psicológica da população afetada, o Hospital Moinhos de Vento lançou o projeto Recomeçar RS: Cuidando da Saúde Mental em Comunidades Impactadas pelas Enchentes. A iniciativa será realizada por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS), com ações voltadas especialmente a pessoas em situação de vulnerabilidade.
O projeto, após repactuação, visa atuar não somente nos municípios de Porto Alegre, Canoas, Eldorado do Sul, Guaíba, Alvorada, Gravataí, Cachoeirinha, Esteio, Sapucaia do Sul, Nova Santa Rita e São Leopoldo, mas também em outras regiões do estado como o vale do Taquari e vale do Rio Pardo. A meta é alcançar cerca de 10 mil pessoas que vivenciaram a perda de suas casas ou conviveram com o impacto direto da tragédia.
A metodologia do Recomeçar RS inclui um rastreamento ativo da população afetada, com aplicação de questionários para identificar sintomas de ansiedade, depressão e estresse pós-traumático, além de coletar informações sobre determinantes sociais de saúde. A partir desse diagnóstico inicial, as pessoas que apresentarem sintomas serão convidadas a participar de um programa estruturado de apoio psicológico baseado em evidências, com cinco encontros semanais utilizando um protocolo da Organização Mundial da Saúde.
O psiquiatra do Hospital Moinhos de Vento, Christian Kieling, destaca a importância da abordagem adotada: "O protocolo utilizado, conhecido como EP+ (sigla para Enfrentando Problemas +), é baseado em técnicas validadas internacionalmente para ajudar pessoas com sofrimento psicológico. É uma abordagem estruturada, de curta duração, que oferece ferramentas práticas para enfrentar o estresse, os problemas do dia a dia e melhorar o bem-estar. Trata-se de uma oportunidade única para desenvolver e adaptar estratégias eficazes de cuidado em saúde mental no Brasil."
Além dos atendimentos diretos, o projeto também oferecerá um curso online de capacitação para profissionais de saúde, focado no cuidado em saúde mental em contextos de desastre. Um grupo de participantes será acompanhado por até seis meses, permitindo monitorar a evolução dos sintomas e o impacto das intervenções — informações que também servirão para orientar futuras políticas públicas em situações emergenciais.
A duração prevista para o projeto é de dois anos, com ações contínuas, unindo assistência, educação e produção de conhecimento.