Das 380 mil espécies de plantas conhecidas no mundo, uma em cada cinco corre risco de extinção e o principal motivo para esse cenário é a ação humana. O hábitat natural mais ameaçado é a mata atlântica, com 90% de seu bioma original dizimados pela agricultura e pela urbanização. As conclusões são de uma pesquisa realizada pelo Royal Botanic Gardens Kew e pelo Museu de História Natural, ambos em Londres (Inglaterra), com a colaboração do Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
O trabalho foi feito a partir dos dados da lista vermelha de espécies ameaçadas, elaborada pela União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês). Além de ampliar o rol de plantas da lista, os pesquisadores priorizaram espécies em situação crítica e incluíram novas informações sobre elas, como sua localização e as causas das ameaças. O resultado foi a elaboração do índice por amostragem da lista vermelha da IUCN para plantas.
A pressão urbana, a agricultura, o extrativismo, a mineração e a poluição são as principais ameaças à flora
“Nossa pesquisa aponta o homem como a principal ameaça para as plantas, ao destruir os hábitats naturais para promover o desenvolvimento”, diz Bronwyn Friedlander, gerente de relações públicas do Royal Botanic Gardens Kew.
O estudo mostrou que a pressão urbana, a agricultura, o extrativismo, a mineração e a poluição são os principais reponsáveis pelo problema. “As plantas são tratadas ora como objetos de desejo do homem, ora como obstáculos para sua expansão”, afirma o biólogo do Jardim Botânico do Rio de Janeiro Cláudio Nicoletti de Fraga, que colaborou com a pesquisa.
Fraga ficou responsável por fornecer informações sobre espécies ameaçadas de orquídeas. “Os critérios para definir se uma espécie corre risco de extinção devem considerar sua distribuição, os impactos sobre sua população e se houve diminuição dela em função disso”, explica.
- A situação das espécies brasileiras
Segundo o inventário da flora brasileira apresentado este ano, o país abriga mais de 40 mil espécies de plantas. A elaboração da lista de espécies de plantas do Brasil é fruto da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Eco 92), realizada no Rio de Janeiro. Naquela época, ficou decidido que cada país deveria contabilizar as espécies de sua flora até 2010, anunciado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o ano da biodiversidade.
Em 2008, uma instrução normativa do Ministério do Meio Ambiente já havia oficializado uma relação de plantas brasileiras ameaçadas de extinção que incluía 472 espécies. O documento também determinou que a coleta dessas plantas só será permitida mediante autorização do órgão ambiental competente.
A lista oficial de plantas brasileiras ameaçadas de extinção inclui apenas 1,15% das espécies encontradas no Brasil, número muito aquém da realidade
De acordo com Fraga, esse número oficial representa apenas 1,15% das espécies encontradas no Brasil e está muito aquém da realidade. “Outras tantas espécies já podem ter desaparecido ou estar desaparecendo sem que se tenha tomado conhecimento disso”, alerta.
Para o biólogo, essa legislação representou um avanço para a conservação de espécies, mas ainda tem limitações. “A lei é um sinal de que o governo está preocupado, o que é bom”, diz. “Ela só se torna um pouco vulnerável porque trata todas as espécies da mesma forma, em vez de priorizar as mais ameaçadas”, pondera.
Sobre a lista de espécies ameaçadas, o biólogo afirma: “É uma forma de precaução, mas o nosso objetivo maior é tirar as espécies da lista, acabar com o risco de extinção.” Ele acrescenta que a informação melhorou muito esse cenário, mas ainda existe um pensamento egoísta de que a natureza deve sempre servir ao homem. E finaliza: “As plantas não estão no mundo só para nos servir.”