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Entrevista inédita com Bia Pacheco
 
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13/04/2009

Entrevista inédita com Bia Pacheco

Conheça os trabalhos de destaques ligados ao HIV/AIDS realizados por esta cidadã homenageada de Porto Alegre-RS

O HIV/AIDS é uma síndrome que coloca em risco todas as pessoas na atualidade, em especial, as mulheres e pessoas da terceira idade. Com esse enfoque, o Sis.Saúde realizou uma entrevista com a sra. Maria Beatriz Dreyer Pacheco, que se autodenomina de Bia Pacheco, "Cidadã PositHIVa". Bia Pacheco recebeu a "Medalha Cidade de Porto Alegre" de 2009 e apresenta trabalhos de destaques em relação ao HIV/AIDS no âmbito nacional e internacional.

Confira a entrevista com Bia Pacheco, "Cidadã PositHIVa", que merece nossa homenagem pelo trabalho significativo realizado em prol da sociedade.

Em primeiro lugar, nós do Sis.Saúde gostaríamos de parabenizá-la pela "Medalha Cidade de Porto Alegre", pelo seu trabalho na ONG RNP+ /POA, entre outras. Assim, gostaríamos que a sra. comentasse sobre o seu trabalho desenvolvido nessa ONG que mereceu essa premiação.

Agradeço muito a gentileza de vocês em relação à homenagem que recebi da Prefeitura e, ainda por me permitirem conversar sobre o que faço.

Na realidade, a premiação não foi decorrência do meu trabalho na ONG, pois estamos sem Sede desde 2004, quando meu marido adoeceu (ele faleceu de câncer, pois não tinha HIV) e eu não tive mais condições financeiras para manter as despesas da casa-sede. Acredito que a premiação tenha sido pela minha militância pela causa, de uma forma mais independente e pioneira. Fui a primeira mulher vivendo com HIV no Rio Grande do Sul que deu entrevistas na mídia, alertando que o vírus da Aids estava atacando as mulheres. Como advogada que sou e juntamente com meu falecido marido – Carlos Aleixo – que era auditor fiscal na DRT/RS, iniciamos um trabalho, também pioneiro, de mediações e retorno ao emprego para trabalhadores que vivem com HIV e perdem seus empregos, apenas por serem pessoas infectadas. Como se conviver conosco, socialmente, fosse risco. Fui ampliando minha atuação, dentro de empresas, escolas e universidades, sempre alertando que o vírus não discrimina e apontando soluções para que as pessoas não se infectassem e, caso já infectadas, que não assumissem a marginalidade que a sociedade quer nos impor.

Na sequência, passei a prestar consultoria ao Ministério da Saúde, mais especificamente o Programa Nacional de DST/HIV/Aids nas áreas de Aids no Local de Trabalho e de Mulheres Vivendo com HIV.

Em 2006, a convite do Ministério da Saúde, protagonizei a primeira campanha em TV e na Mídia em geral, com pessoas vivendo com HIV, ao invés de atores, fato que me tornou realmente uma referência como pessoa infectada pelo vírus, com absoluta visibilidade.

Com o meu envelhecimento, comecei a alertar ao Ministério da Saúde de que nós, as pessoas idosas estávamos aumentando muito em número de novas infecções, e passei a atuar como referência nacional, também, na discussão sobre sexualidade e prevenção á Aids na terceira idade e para o adulto maduro.

Estas ações diferenciadas é que me fizeram receber esta medalha, que tanto me honra. Ademais, esta homenagem tem um sentido muito maior para mim, pois ela é a prova viva do que sempre afirmei, que nós que vivemos com HIV ou Aids não temos de nos esconder, pois este vírus não pode matar nossas histórias de vida e a dignidade e honradez de uma pessoa está em seu atos e em sua conduta e nunca devem ser avaliados por um mero vírus que se alojou em nossa corrente sanguínea. Somos todos sexuados e, por consequência, vulneráveis a este maldito vírus, mas as nossas ações são muito maiores que qualquer julgamento preconceituoso e cruel que possa querer nos marginalizar. E é esta a minha luta que acredito esteja sendo vitoriosa!

Sabemos que, além de seu trabalho na ONG RNP+ /POA, a sra. participa de vários trabalhos em prol da conscientização da problemática do HIV/Aids, como o Movimento Nacional das Cidadãs PositHIVas e Movimento Latino-Americano e Caribenho de Mulheres Positivas - MLCM+, o que representa esses movimentos e qual a sua atuação nestes?

Bem, tive meu diagnóstico reagente para o HIV em 1997. Em outubro do mesmo ano, eu já estava dando entrevistas em TV e jornais, sobre o tema. Já em 1999 fui convidada a representar o Brasil, juntamente com outras quatro mulheres de outros Estados, no Primeiro Encontro Latinoamericano e Caribenho de Mulheres Positivas, em Bogotá. Lá, fundamos o MLCM+, com mulheres positivas para o HIV de todos os países da América Latina e Caribe com a proposta de lutar pela não discriminação, pela melhoria da qualidade de vida da Mulher infectada pelo vírus e pela prevenção de novas infecções. Voltamos para o Brasil com a incumbência de capacitar as mulheres aqui para dar continuidade a esta luta. Foram capacitadas, com apoio do Ministério da Saúde, 54 mulheres brasileiras, duas de cada Estado. E o nosso trabalho começou a crescer. Em 2001, oficializamos a existência do “Movimento Nacional das Cidadãs PostHIVas”. Já somos mais de duas mil mulheres com HIV ou Aids, lutando para que outras mulheres não se infectem, discutindo a prevenção, buscando espaços de visibilidade e controle social junto às Comissões e Conselhos de Saúde. Exercemos nossa “Cidadania PositHIVa” de forma plena e com absoluta visibilidade, pois entendemos que ter HIV não é vergonha.

Como se encontra, na atualidade, a situação das mulheres brasileiras em relação ao HIV/Aids?

Ainda muito difícil. É rara a mulher, hoje em dia, que tena a noção real de sua vulnerabilidade à infecção pelo HIV e de sua responsabilidade pela sua vida e sua saúde. Mesmo em 2009, Século XXI, nós ainda deixamos esta situação na mão dos homens! E isto é inadmissível. Uma mulher absolutamente inteira e consciente da realidade da Aids e das DST no país, JAMAIS teria uma relação sexual desprotegida. Mas, infelizmente, ainda lidamos com situações graves de violência contra a mulher, inclusive no que concerne à visão retrógrada e fora da realidade da maioria das religiões que condenam qualquer método preventivo, nas relações sexuais diferentes da abstinência. Mas, não gosto de ficar culpando aos outros. Nós mesmas temos de assumir as rédeas de nossas vidas e vencer as dificuldades. E é justamente este o meu trabalho. Ajudar as mulheres – e aos homens também – a vencer as dificuldades que a sexualidade lhes traz e que muitas vezes os levam a infectarem-se com o HIV, simplesmente por não conseguirem falar de seus medos e angústias sobre o tema SEXO.

Como a sra. percebe as perspectivas de mudanças no quadro atual em relação à mulher e o HIV/Aids?

Sou uma mulher movida pela esperança, pela alegria e pela busca da felicidade. Então, é com este olhar que procuro ver a mulher ante as DST e o HIV. Somos guerreiras. Se já estamos infectadas, vamos erguer a cabeça, mostrar para o mundo o real tamanho deste vírus: microscópico! E, como tal ele deverá ficar, sem matar as nossas histórias de vida! Mas, para aquelas que não estão infectadas, eu peço que acreditem em sua vulnerabilidade e se cuidem. Só assim, juntas, infectadas ou não, conseguiremos reverter esta realidade de sofrimento, exclusão, medo e preconceito.

Viemos a este mundo para sermos felizes, mas a felicidade deve ser sempre uma construção pessoal. Se quero ser feliz tenho que ser respeitada e, para que me respeitem, tenho que me respeitar e me fazer respeitar! Temos muito a andar, ainda... Então fica o meu conselho: digam NÃO ao sexo desprotegido e aprendam a fazer do preservativo um grande instrumento de prazer e proteção. Se meu marido e eu, com quase 50 anos, em uma relação sorodiscordante (eu como vírus e ele sem o HIV) conseguimos aprender a usar preservativo e fazer dele um objeto extremamente prazeroso em nossa vida (e vivemos felizes durante dez maravilhosos anos!), vocês que são jovens, certamente o farão muito melhor. E eu lhes garanto: ser feliz vale à pena, em qualquer situação!

 


Autor: Marli Appel
Fonte: Sis.Saúde

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