Algumas das palestras de maior sucesso na Campus Party deste ano foram as que trataram da psicologia dos games. O responsável por elas foi o desenvolvedor de jogos Edgard Damiani. Autodidata, Edgard começou a atuar na área em 1998, aos 18 anos. Mas não curtiu muito essa história de fazer jogos para ganhar dinheiro: queria fazer isso por uma coisa de realização pessoal, mesmo. O seu ganha-pão é o trabalho como técnico em informática no Ministério Público Federal. Nas horas vagas, trabalha em projetos pessoais e estuda os games aliado a um tema pelo qual caiu de amores há 10 anos: a psicologia.
Edgar acredita que a preferência das pessoas por certos tipos de jogos podem revelar fatos sobre o jogador e, mais do que isso, sobre a sociedade como um todo. A enxurrada de jogos com temas apocalípticos, por exemplo, pode indicar uma percepção coletiva de mudanças na sociedade. “Todas as sociedades têm um apogeu e um declínio. Estamos vivendo num período de declínio da sociedade como a conhecemos e o gosto por esses jogos simboliza que as pessoas estão com esse sentimento de decadência, inconscientemente”, explica.
A dinâmica dos games que escolhemos também pode ser importante nesse processo de autoconhecimento. “Quem prefere jogos de estratégia geralmente é mais analítico. Jogos de ação em tempo real atraem perfis mais ativos”, diz. Rola até um processo de auto-afirmação nos games, impulsionado por questões da vida real. Edgard deu um exemplo fácil de visualizar: imagine um garoto “extremamente intelectual e socialmente deslocado” que sofra perseguições na escola e tenha que lidar com a indiferença das garotas. Ele pode encontrar em jogos complexos, que exijam um raciocínio lógico acima da capacidade de pessoas comuns, um meio de enxergar suas habilidades e seu valor.
É claro que, como o próprio Edgard alerta, não se pode fazer generalizações: cada caso é um caso. O que ele quer é fazer as pessoas perceberem que o mundo dos games é mais complexo do que se imagina.