.
 
 
Entrevista exclusiva com especialista: superbactéria KPC
 
Saúde RS
 
     
   

Tamanho da fonte:


22/10/2010

Entrevista exclusiva com especialista: superbactéria KPC

Profa. Simone Ulrich Picoli comenta sobre sobre pesquisa publicada recentemente

Profa. Simone Ulrich Picoli

Devido à constatação de casos de Klebsiella Pneumoniae Carbapenemase (KPC) nos hospitais do Brasil e, inclusive, do Rio Grande do Sul, a equipe do SIS.Saúde foi conversar com uma especialista na área, a Profa. Simone Ulrich Picoli, mestra em Microbiologia; professora adjunta da Federação de Estabelecimento de Ensino Superior em Novo Hamburgo (FEEVALE).

O grupo de pesquisa da Profa. Simone recentemente publicou uma pesquisa a respeito no Jornal Brasileiro de Patologia e Medicina Laboratorial, que compreendeu uma avaliação de hospitais de Porto Alegre e Grande Porto Alegre (clique aqui para consultar a pesquisa**).

 

Entrevista

Profa. Simone, em uma pesquisa que a Profa. publicou recentemente, os dados foram levantados no ano de 2008 nos hospitais de Porto Alegre e grande Porto Alegre. Primeiramente, gostaríamos de saber se houve continuidade nessa pesquisa.

Sim, a pesquisa teve continuidade. Num primeiro momento, o estudo foi desenvolvido com amostras de dois hospitais (um de Porto Alegre e outro da Grande Porto Alegre). Contudo, a continuidade do estudo se deu apenas no hospital de Porto Alegre.

O artigo publicado, no qual não foram encontradas amostras positivas para KPC, compreendeu coletas de agosto a novembro de 2008. Posteriormente, as coletas de isolados bacterianos de Klebsiella pneumoniae se estenderam até junho de 2009. Com essas outras amostras foi realizada nova pesquisa da enzima KPC e encontrou-se o resultado positivo para o fenótipo desta enzima (dados não publicados – artigo submetido para publicação em fevereiro de 2010).

Em segundo lugar, gostaríamos que comentasse a importância desse tipo de pesquisa para a população.

Considerando recentes confirmações de infecções causadas por bactérias produtoras de KPC em diferentes localidades do país, reforça-se a importância de sua pesquisa, pois, quando um hospital identifica os pacientes infectados, torna-se possível um controle mais adequado, reduzindo a sua disseminação.

Por outro lado, é previsível que a população em geral fique preocupada diante dos relatos de presença dessa bactéria nos hospitais brasileiros. Todos devem conhecer os modos de se prevenir e também devem saber quem são as pessoas mais vulneráveis a adquirir infecção pela bactéria. Hábitos simples como lavagem rigorosa das mãos e aplicação de álcool 70% são muito eficientes como medidas preventivas. Outra informação válida é lembrar que a bactéria oferece maior risco para os indivíduos que já estão hospitalizados e que estão com o sistema imunológico comprometido.

Na ocasião de sua pesquisa, não foram indetificadas amostras com bactérias superresistentes. No entanto, a Unifesp diz ter identificado amostras no RS recentemente. Ao que a Profa. atribui a esses casos recentes no RS, ou seja, quais os fatores que podem ter propiciado um surgimento mais acentuado de bactérias superresistentes no Estado.

Na fase inicial da pesquisa (de agosto a novembro de 2008), realmente não encontramos a KPC em qualquer um dos dois hospitais avaliados. Contudo, os recentes casos descritos no RS podem ter origem em pacientes colonizados pela KPC vindos de outros Estados, onde a bactéria já estava circulando e que, posteriormente, desenvolveram a infecção. Efetivamente, os microrganismos são incapazes de se deslocar de um local a outro e necessitam ser “transportados”; esse transporte normalmente ocorre através das pessoas (sadias ou não).

Na sua pesquisa, é realizada a sugestão de "vigilância para o mecanismo de resistência emergente do Brasil (KPC)". Comente a respeito, no sentido do protocolo que foi sugerido.

Na ocasião do trabalho publicado, o Clinical and Laboratory Standards Institute (CLSI) ainda não trazia recomendações a respeito de carbapenemases e por essa razão foram utilizados os critérios do Centers for Disease Controle and Prevention (CDC, 2008). A partir de 2010, o CLSI passou a fazer recomendações nesse sentido.

De fato, todos os isolados de enterobactérias com sensibilidade reduzida a carbapenens associada à redução de sensibilidade a cefalosporinas de terceira geração (ceftazidima ou cefotaxima) merecem atenção quanto à produção de carbapenemases.

Assim, o teste de sensibilidade a antibióticos (antibiograma) realizado em condições adequadas, que demonstre resultados de diâmetro de inibição para ertapenem menor ou igual a 21 mm juntamente com comportamento intermediário ou resistente para ceftazidima ou cefotaxima (cefalosporinas de terceira geração), é sugestivo de carbapenemase. Para complementar a identificação laboratorial fenotípica da enzima, pode-se usar agentes inibidores da mesma (ácido fenilborônico). Deve-se ter cautela em relação ao teste de Hodge (sugerido pelo CLSI) devido aos resultados falsos positivos (uma vez que o teste é positivo para outros mecanismos de resistência a carbapenens e não exclusivamente para KPC). De qualquer maneira, é muito importante confirmar a suspeita de KPC através de técnicas de biologia molecular e manter contato com a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar mediante o achado de um isolado suspeito de conter a enzima (a fim de controlar sua disseminação).

Saiba mais sobre a superbactéria KBC***

A resistência bacteriana aos antimicrobianos está aumentando ao longo do tempo. Em geral, as bactérias multirresistentes estão restritas ao ambiente hospitalar. Porém, o que tem gerado a preocupação dos especialistas é que, mais recentemente, a disseminação dessas bactérias tem surgido, em alguns locais do mundo, em lares de idosos e até na comunidade (LUKE et al., 2009).

A resistência adquirida por essas bactérias incide devido a uma mudança em sua composição genética, de forma que as drogas, até então efetivas, não sejam mais ativas. Em geral, isso ocorre devido à superexposição dessas bactérias aos agentes antimicrobianos, tal como os antibióticos.
(LUKE et al., 2009).

Dentre as bactérias superresistentes, a Carbapenemase Klebsiella Pneumoniae (KPC) é a mais comumente encontrada no mundo, incluindo o Brasil. Os fatores de risco para as infecções por KPC incluem internação prolongada, unidade de terapia intensiva (UTI), dispositivos invasivos, imunodepressão e o uso de vários antibióticos (NORDMANN et al., 2009).

Os locais do mundo onde se verificam uma situação endêmica e epidêmica pela KPC e suas variantes incluem: Grécia, Israel, Colômbia, Porto Rico, locais específicos da China e Estados Unidos (ver figura abaixo). No Brasil, recentemente, observa-se um aumento dos casos em hospitais, porém, ainda são casos isolados.

 

Fonte: NORDMANN et al., 2009.

 

Referência para a entrevista**

DIENSTMANN, R. et al. Avaliação fenotípica da enzima Klebsiella pneumoniae carbapenemase (KPC) em Enterobacteriaceae de ambiente hospitalar. J. Bras. Patol. Med. Lab. [online], v. 46, n. 1, pp. 23-27, 2010.

Outras referências***

NORDMANN, P. et al. The real threat of Klebsiella pneumoniae carbapenemase-producing bacteria. Lancet Infect. Disease, v. 9, n. 4, pp. 228-236, abr. 2009,

CHEN, L. F. et al. Pathogens Resistant to Antibacterial Agents. Infect. Disease Clin. North America, v. 23, n. 4, pp. 817-845, dez. 2009.


Autor: SIS.Saúde
Fonte: Vide referências

Imprimir Enviar link

Solicite aqui um artigo ou algum assunto de seu interesse!

Confira Também as Últimas Notícias abaixo!

 
 
 
 
 
 
 
Facebook
 
     
 
 
 
 
 
Newsletter
 
     
 
Cadastre seu email.
 
 
 
 
Interatividade
 
     
 

                         

 
 
.

SIS.SAÚDE - Sistema de Informação em Saúde - Brasil
O SIS.Saúde tem o propósito de prestar informações em saúde, não é um hospital ou clínica.
Não atendemos pacientes e não fornecemos tratamentos.
Administração do site e-mail: mappel@sissaude.com.br. (51) 2160-6581