Atenção! Antes que continue a leitura, você deve saber que, até o fim desse texto, mais de 10 mulheres terão sido espancadas e/ou violentadas, dentro de suas próprias casas, em todo o Brasil. O dado acima faz parte de uma triste e alarmante estatística da Fundação Perseu Abramo sobre a violência doméstica no Brasil, mesmo tema da palestra integrante da Sipat - Semana Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho, da Paraná Clínicas. Quem ministrou a apresentação foi a 1ª Tenente Dentista da Polícia Militar do Paraná, Luci Belão. Da plateia, formada essencialmente por mulheres, colaboradoras da empresa, a atenção e interesse ao tema era máxima.
O perfil da mulher violentada no Brasil poderia ser facilmente definido, não fosse por uma falha simples, que põe toda a veracidade das pesquisas em xeque: o medo de denunciar o agressor leva muitas mulheres a nunca procurarem ajuda. Consequentemente, não se sabe ao certo quantas são as vítimas. O que se sabe é que o número deve ser muito maior do que o relatado. “São mulheres comuns”, diz Luci sobre o perfil dessas pessoas, “que, sem motivo aparente, começam a apresentar dores crônicas, disfunções no humor, depressão e, quando continuam sendo agredidas, diminuem até mesmo o ritmo das conversas e da fala”.
Genericamente, pode se perceber uma predominância de violência familiar entre mulheres de classes mais baixas, normalmente empregadas domésticas ou donas de casa, casadas ou em união estável. Luci conta que, até dez anos atrás, a idade média dessa mulher variava entre os 29 e os 39 anos. Hoje, essa idade vai dos 20 aos 39 anos. “Precisamos entender que essa mudança acompanha uma alteração nos padrões familiares – se antes tínhamos um maior índice de casamentos planejados, hoje essa família pode ser formada até mesmo na adolescência, sem muitas considerações”, explica tenente.
Pode-se dizer que, para essas mulheres, sair de casa tem sido mais seguro do que ficar no ambiente doméstico. Na palestra, a tenente relatou que o número de agressões nas ruas chega a ser nove vezes menor do que os registros de violência em casa. “O homem agressor, desse modo, aprende a ser violento em casa, enquanto cresce, enquanto as mulheres aprendem a serem submissas”, explica Luci.
A tenente pode fazer essa avaliação com segurança. Ela trabalha oficialmente com vítimas desde 2007. Baseando-se em sua experiência, afirma que a educação é importantíssima no combate a esse tipo de comportamento, bem como o papel do assistente social na hora de ouvir as mulheres agredidas. “Não se pode julgar uma mulher que é violentada, mas compreender que, dentro de suas circunstâncias, ela nada pôde fazer a respeito e que só o fato de ela estar procurando ajuda já representa, para nós e para ela, um grande avanço”, conta.
Na opinião de Luci, o primeiro passo para combater melhor o crime de violência doméstica é torná-lo visível. A criação de leis e políticas públicas, nesse sentido, tem muita importância, mas deve ser acompanhada de um processo de reeducação, tanto do indivíduo agressor, quanto da mulher agredida. “A mulher não precisa ser feminista para saber que não deve tolerar agressões desse tipo”, diz, “aliás, sempre que me perguntam se eu sou feminista, respondo que sou feminina e isso basta”, brinca, em tom sério. Talvez, esse autoreconhecimento seja o primeiro dos vários passos que a sociedade brasileira precisa dar para reduzir o triste número de mulheres que, somente no tempo da leitura desse texto, foram agredidas em seus próprios lares.
Mais foco em mulheres
Além da palestra sobre a violência doméstica, o Sipat contou com outros temas de interesse de seus colaboradores e colaboradoras. As mulheres, inclusive, tiveram uma atenção especial nessa edição do ciclo de palestras. Na quarta-feira, dia 11, a médica Alexandra Ongaratto deu dicas a um público majoritariamente feminino, sobre planejamento familiar e métodos contraceptivos. Destacando a necessidade da adequação dos tratamentos individuais a cada paciente, Alexandra esclareceu as principais dúvidas dos participantes, sempre de modo descontraído e cooperativo. Outros temas como a gripe H1N1 e problemas de coluna também tiveram seus espaços dentro do evento.